sexta-feira, 10 de junho de 2011

Surpreenderá a todos não por ser exótico

 A vibração das cores, as formas, os materiais: referência indígena

Desde os anos 1990, o Brasil vive um período de intensa busca por uma identidade na moda. Uma linha guia, uma característica que possa unir e retratar a essência do nosso país. Nesse percurso, vale, então, ressaltar todas as referências e o resgate da indumentária indígena.  

A necessidade de vestuário e ornamentação vem desde os primórdios da história humana. Longe de servir apenas como proteção contra intempéries climáticas, a roupa veio para algo maior: representação. Representação de identidade perante ao seu grupo social e aos outros grupos. Na cultura indígena isso fica bastante claro. Só porque índio não usa uma vestimenta como a que estamos acostumados, não quer dizer que o discurso através do visual seja mais fraco. Muito pelo contrário. Nessa cultura, cada elemento, cor, material, forma, faz parte de uma simbologia bastante ampla

Determinados ornamentos tornam possível a identificação da tribo, faixa etária, e até mesmo papel social dentro do grupo. Vestuário e adornos estão totalmente relacionados ao modo de organização social. Simbologia pura. O ritual começa cedo: o próprio ato de separar os materiais, confeccionar as peças, pintar o corpo, já dá início à celebração. É comunicação alternativa; não simplesmente baseada na fala.

Mesmo que hoje em dia seja comum a comercialização dos objetos produzidos pelos índios, os adornos não são simples enfeites no contexto da cultura indígena. De certa forma, lamenta-se a deturpação do verdadeiro significado da produção e do uso desses adereços, mas ao mesmo tempo, comemora-se como uma forma de preservar essa arte.

Fotos: reprodução


As referências, direto na moda
Já estamos acostumados ao mundo globalizado, em que as referências surgem de qualquer parte. Sua essência até pode se perder. Artefatos que, anteriormente, eram imediatamente relacionado a determinado povo, passaram a ser incorporados por diversas outras culturas. Os índios americanos “emprestaram” o estilo de suas calças para o caubói; Maias, Incas e Astecas imprimiram suas cores fortes e seus desenhos e símbolos sagrados em qualquer parte do mundo. E os nossos índios brasileiros?

No Brasil, ganhamos materiais, novos costumes, cores. Não há quem nunca tenha experimentado um cordão feito de sementes, das mais variadas origens. Sementes tingidas, perfuradas, esculpidas. Folhas, fibras naturais, pele de animais, miçangas, penas. Tudo cuidadosamente trabalhado e transformado. Os indígenas nos mostram que a criatividade pode ser infinita, sabendo aproveitar os recursos com responsabilidade. Este é o ponto mais importante: produção e utilização sustentável do meio ambiente.

Eles trouxeram, também, costumes diferentes: muita influência para tatuagens e alargadores de orelha, por exemplo. Agora, o que provoca mais encanto são as cores. Diferentes técnicas de tingimento tornam possível a criação de peças com tonalidades incríveis: vivas, alegres, verdadeiras miniaturas da explosão cromática de uma floresta

A moda que resgata elementos indígenas está no Brasil e também fora: até na última Semana de Moda de Paris, no desfile de Maurizio Galante! (veja o compacto do desfile aqui!) 


Fotos: reprodução
A #dica, na hora de buscar referências, é tomar cuidado para não exagerar e ficar parecendo “fantasiada”. A peça escolhida deve ser o carro-chefe da produção. Não vale, também, misturar muitas etnias em uma mesma produção. No mais, é só arrasar.

O gato também se inspira
Para compor um visual estilizado, com um toque de referência indígena, nada melhor do que investir nas penas, não é? Pois o Gato foi buscar inspiração nas cores vibrantes e misturadas dos tupiniquins! A influência fica clara nos cordões que você vê agora, bordados à mão com miçangas! É, sem dúvida, uma escolha certeira, mesmo que a sua tribo seja urbana ;)    

(Estandarte feito com uma camisa criada pelos meus pais há muito tempo! Tudo se transforma, né gente?)
“Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio”


Caetano Veloso


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